terça-feira, 22 de maio de 2012

SÓ SENDO DO CANINDÉ PRA SE PERDER NO TIMBÓ

SÓ SENDO DO CANINDÉ
PRA SE PERDER NO TIMBÓ
 AUTOR: JOTA BATISTA



 Quando eu vim de Canindé
 Para Maracanaú
Para alocar uma casa
 Rodei igual um peru
Com esforço uma arranjei
O caução adiantei
Fui a empresa trabalhar
Quando cheguei da jornada
A uma da madrugada
Teve início o meu penar

Vim no expresso Santo Antonio
Cheguei cansado que só
Desci foi no Jereissati
Eu não desci no Timbó
Que seria o lugar certo
Fiquei num canto deserto
O medo me dominava
A madrugada era fria
Na verdade eu não sabia
Mais aonde que eu morava

Essas casas de conjunto
São todas elas iguais
E eu estava distante
Da que eu aluguei demais
Sem ninguém a avistar
Sem ter a quem perguntar
Eu tomei um rumo incerto
Pra lá, pra cá eu andava
Pra meu azar nem achava
A porra de um bar aberto

Foi a maior aflição
Que tive na minha vida
Nessa hora eu só lembrava
Da minha mamãe querida
Eu fiquei desvanecido
E se viesse um bandido
Pra aumentar minha agonia
E se a tripa desse um nó
E se caísse um toró
E se faltasse energia

Todas essas situações
Vivi naquele momento
Pensei em fechar os olhos
E correr que nem jumento
Mas eu fui mantendo a calma
E parece que uma alma
Quis consertar minha mesa
E de fato num instante
Vi uma casa bem distante
Porta aberta, luz acesa

Menino, meu coração
Se afogava em alegria
Parecia que eu tinha
Acertado a loteria
Depois que eu avistei
De repente me animei
E com a vista meio cega
Fui andando mais depressa
E só pensando que essa
Talvez fosse uma bodega

Quando cheguei bem em frente
Eu mesmo me fiz simplório
Aquilo não era um bar
Era um diabo de um velório
O falecido era um ente
Que tomou muita aguardente
Morreu e virou carcaça
Pensei: - não é tão ruim
Velório de gente assim
Deve ter muita cachaça

Entrei e dei boa noite
Aproximei do defunto
Por eu ser desconhecido
Danei a puxar assunto
E disse para a avó dele
Eu só bebia mais ele
Era um menino de bem
A velha pôs-se a chorar
Pra ninguém desconfiar
Passei a chorar também

Uma voz lá do quintal
Falou o nome cachaça
Ouvi, fiquei matutando:
- agora eu bebo de graça
Passei pela a camarinha
Pela porta da cozinha
À velha, dei~lhe um sebo
Em menos de três segundo
Eu estava lá no fundo
Do quintal com outros bebos

Sei que antes das três horas
A cachaça se acabou
'inda tomei três lapadas
Quando o defunto soltou
Gases tão fenomenais
Que empestaram os quintais
Que haviam no quarteirão
Me veio repugnância
Eu disse: - quero distância
Desse defunto peidão

Exausto chamei um bebum
Disse a ele: - meu cumpade
Quero ir embora daqui
Mas, não conheço a cidade
Contei todo o meu problema
Meu sofrer, o meu dilema
Que tinha perdido a reta
Ele disse assim: - pois é,
Só sendo do Canindé
Com essa cara de pateta

Lembrei-me qual era a rua
E lhe disse: - é um, dois, oito
Me deixe lá que eu te dou
Um pacote de biscoito
É uma casa de esquina
De lado tem uma usina
De reciclagem de lata
De frente u'a mercearia
De um tal Dona Maria
Que vende ovo de pata

Ele respondeu: - já sei
Onde é sua residência
Suba aí na bicicleta
Procure ter paciência
E saímos procurando
E ele só conversando
E nada da casa achar
Eu fiquei de novo aflito
Pedi a Santo Expedito
Pro cara não me roubar

A gente vive em um mundo
De total desconfiança
Ás vezes lhe chega alguém
Com a cara de criança
Atrai sua simpatia
É só festa e alegria
Todo em pele de cordeiro
É um lobo a lhe embelezar
Querendo lhe embriagar
Pra tomar o seu dinheiro

Mas eu tive um ledo engano
O moço era direito
Encontrou a minha casa
Confirmou ser bom sujeito
Deveras agradecido
O biscoito prometido
Dei-lhe junto com um café
Mas antes dele sair
Ele torna a repetir
Só sendo do Canindé

Quando eu entrei na casa
Assim um pouco esquisito
A mulher olhou pra mim
E disse: - muito bonito
Expliquei a situação
Ela fez uma confusão
- de você perdi a fé
Queres enganar a mim ?
Cabra mentiroso assim,
Só sendo do Canindé

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